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Meu amigo Kenny
Olá, eu sou Franklin e essa história que vou contar é sobre um amigo imaginário que eu criei quando era criança. Ele era um urso de pelúcia que eu chamava de Kenny. Ele vivia comigo e com a minha mãe.
Kenny era o único amigo que eu tinha. Ele brincava comigo e contava histórias pra mim e a gente passava muito tempo juntos. Os únicos momentos do dia que Kenny não estava comigo era na escola porque segundo minha mãe "escola não é lugar de levar amigos imaginários". Quando queria brincar comigo ele sempre falava "É hora de se divertir Franklin". O tempo que a gente juntos passava era realmente divertido... no início.
Kenny só tinha 1 defeito: tinha muito medo de desaparecer. Para quem não sabe, amigos imaginários desaparecem se a frequência com que pensamos neles diminui com o tempo. Em média eles vivem por 2 ou 3 anos da infância. Assim Kenny ficava tentando me entreter de alguma maneira para que eu não parasse de pensar nele.
Conforme o tempo ia passando o medo dele de desaparecer ficava pior até afetar o comportamento dele. Ele começou a ficar o tempo todo comigo, até na escola porque Kenny tinha medo que eu "esquecesse dele enquanto ele não estava".
Ele tentava inovar nas brincadeiras porque não queria que eu me entediasse e por isso as vezes passava dos limites. Uma vez Kenny derramou gasolina por toda cozinha e estava pronto pra colocar fogo nela se eu não tivesse impedido ele.
Por essa e outras "brincadeiras" minha mãe não acreditou que foi meu amigo imaginário e pensou que a culpa fosse minha, então ela me levou ao psiquiatra por acreditar que eu tinha alguma tendência psicopata. Numa das consultas meu amigo imaginário chegou a levar uma faca com ele porque o psiquiatra queria iniciar uma terapia para que ele desaparecesse, mas eu o impedi de usar a faca.
Kenny também não queria que eu dormisse porque ele tinha medo que eu esquecesse dele enquanto dormia. Sempre que eu pegava no sono ele me acordava e dizia "É hora de se divertir Franklin". Eu cheguei a passar muitas noites em claros, mas as vezes o sono me vencia e ele não era capaz de me acordar por um tempo. Eu dormia uma ou duas noites por semana no máximo. Se eu fizesse um amigo, Kenny o assustava de alguma maneira para que nunca mais falassem comigo. Ele tinha medo que fosse substituído por amigos reais.
Devido aos fato das terapias convencionais não funcionarem comigo e pelos meus graves transtornos serem "perigosos", o psiquiatra indiciou alguns antipsicóticos pesados. Eles ajudaram um pouco e eu via Kenny menos, mas isso piorou tudo. O medo e o ódio dele chegou a um nível ainda maior, eu já não tinha controle nenhum sobre ele.
Num desses dias ele me acordou no meio da madrugada e com um sorriso disse "É hora de se divertir Franklin, agora ninguém mais vai tentar nos separar". Ele pegou uma marreta na garagem e se dirigiu pro outro quarto da casa.
Ninguém acreditou que Kenny era real, então a culpa foi colocada em mim e me internaram num manicômio. Eu levei Kenny comigo e desde aquele dia eu jamais esqueci dele nem por um instante.